Independente do campo de trabalho, final de ano é um sinônimo de retrospectivas e previsões. E especialmente no âmbito do software livre, vem uma pergunta recorrente, o famoso bordão "Será esse o ano do Linux?". Pessoalmente, acredito que mesmo se ocorrer um momento onde o Linux vire o jogo e acabe sendo o kernel do sistema operacional mais utilizado globalmente, acredito que seria um erro ditar uma data para isso ocorrer, visto que isto é fruto de um projeto de longo prazo, e não uma mudança de um dia para a noite. Porém, nada impede de analisar os principais fatos envolvido nas previsões de mercado, afinal 2013 certamente promete, com muitos projetos de grandes empresas chamando a atenção pela sua ligação, ao ecossistema do Linux.
Um dos projetos em maior evidência é o suporte do Steam para Linux. Conforme
informações no blog da Valve, o trabalho para portar o ambiente do Steam para Linux começou em 2011, e no último mês do ano foi aberto para o
beta público. Apesar de a algum tempo já termos algumas produtoras e distribuidoras de games indies (com o carro chefe dessa iniciativa sendo o pessoal do
Humble Bundle) tendo como parte do seu trabalho o suporte ao Linux, o esforço da Valve marcaria a entrada das grandes empresas de jogos ao Linux. Na área de jogos, em 2012 também tivemos a
EA lançando 2 jogos para Ubuntu, mas aparentemente não houve maiores frutos dessa ideia, porém pode ser que o desenvolvimento a portas fechadas entre a Canonical e a EA. Por mais que toda essa atenção ao querido pinguim seja louvável, o grande doutor Richard Stallman já levanta questionamentos referentes a ética (ou a falta dela) por trás dos
jogos comerciais para Linux, mostrando o posicionamento do projeto GNU sendo contrário a iniciativas que utilizem DRM, por prenderem o usuário e limitarem a sua liberdade.
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Richard Stallman sempre polemizando...
Fonte: http://geekz.co.uk/lovesraymond/wp-content/ep047.jpg |
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Mas não somente os jogos que prometem no futuro. A popularidade do
Raspberry Pi mostrou ainda existe muito mercado para computação hobbista, com dispositivos baratos porém facilmente extensíveis e programáveis. Já haviam diversas iniciativas de código aberto nesse campo, como o extremamente flexível
Arduino, porém o Raspberry Pi combinou baixo valor com um nível de poder computacional relativamente grande para essa categoria de dispositivos. Se o Arduino tem como foco aplicações com finalidades eletrônicas (desde o
tradicional cubo de leds, até o
controle de uma "arma" laser), o Raspberry Pi está sendo utilizado em aplicações de mais alto nível (de
thin client a
HTPC de baixo custo). Os sempre criativos chineses também já estão criando algumas alternativas, como o
Open Exynos4, porém a maioria dessas alternativas estão focadas em rodar o Android, limitando um pouco o escopo de uso ou necessitando de algumas gambiarras para funcionar com Linux.
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Raspberry Pi, um computador completo no tamanho de um cartão de crédito
Fonte: http://www.lesliewong.us/images/1211/pi.jpg |
Falando no
Android, o sistema operacional móvel mais utilizado no mundo, ele está chegando a maturidade de uma forma incrível. Com a chegada da sua
versão 4.2, a estabilidade e velocidade do sistema chegaram a um patamar muito acima das versões anteriores (quem já teve um celular com Android nos tempos da versão 2.X deve se lembrar desses tempos traumáticos), além de menor consumo de bateria e outras pequenas otimizações. Por baixo dos panos, vimos que o Kernel do Android e o Kernel do Linux
andam de mãos dadas novamente, o que já está beneficiando ambos os projetos com a contribuição de código entre eles. O
Nexus 7 também foi uma ótima surpresa em 2012, e estabeleceu um novo nível de qualidade para tablets com Android, e ao que tudo indica deve chegar em
2013 ao Brasil, acerrando a competitividade nesse campo. Em 2013 veremos outra plataforma aberta baseada em Linux competindo com o Android no mercado móvel, o aguardado
Firefox OS. Com uma abordagem diferente em relação ao desenvolvimento de aplicativos, o projeto é promissor, porém a falta de grandes empresas apoiando a iniciativa pode acabar com a popularidade do sistema. E no meio de todas essas inovações, competições e melhoramentos, mais uma vez o bom doutor Richard Stallman adverte sobre a
falta de liberdade no Android. Acredito que o Firefox OS deverá ser mais aberto, porém só o tempo poderá confirmar se o pessoal da Mozilla vai cumprir essa promessa.
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Será que em 2013 o Android vai abocanhar uma parte do mercado desktop?
Fonte: http://www.lesliewong.us/images/0907/android.jpg |
No campo do Desktop, o
Ubuntu deve seguir ocupando as manchetes e os computadores mundo afora. A estratégia da Canonical de utilizar uma interface para diversos ambientes com o
Unity não agradou a muita gente, criando uma situação "ame ou odeie", assim como a polêmica referente
as propagandas da amazon integradas ao sistema, que chegou a ser classificado até mesmo como
spyware pelo pessoal do projeto GNU. Porém, a cada versão do Ubuntu a tecnologia por trás do Unity vem sendo aprimorada em termos de desempenho, e acaba sendo uma alternativa interessante para quem tem um computador moderno. Para os insatisfeitos com o Unity, em fevereiro do ano que está por vir já teremos o
lançamento da versão 4.10 do KDE SC, que na sua versão 4.9 já mostra uma maturidade e qualidade fora de série, provendo uma experiência muito eficiente do
Desktop Social. Outra alternativa alternativa popular ao Unity, o
GNOME 3 anda sofrendo com algumas criticas, até mesmo de
Linus Torvalds. Porém, isto é normal em um processo de transição como foi este do GNOME 2 para o 3, e muita gente esquece que o próprio KDE sofreu diversas criticas no seu processo de transição também, incluindo novamente
algumas farpas do Linus. Com a possibilidade de lançamento do
Red Hat 7 em 2013, acredito que o pessoal do chapéu vermelho deve contribuir ainda mais para o projeto GNOME, fazendo com que muitas das criticas sejam solucionadas. Mas se nenhuma dessas três opções agradar, temos ainda forks realizados pelo pessoal do
Elementary OS e
Linux Mint que estão atraindo muita atenção e agradando os usuários mais conservadores.
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Elementary OS e Linux Mint são uma boa aposta para o desktop em 2013
Fonte: http://elementaryos.org/sites/default/files/user/5/Screenshot%20from%202012-06-20%2015%3A55%3A20_0.png |
2013 possivelmente não será o ano do Linux, mas certamente será um ano que promete muito para o software livre, com muita evolução e reflexões sobre a liberdade do usuário!
P.S.: Muito obrigado ao caro amigo Diego Costa por ceder o espaço para trocar ideias nerds :)